Lactose

Estima-se que três quartos da população apresentem algum grau de intolerância à lactose, segundo Paulo Olzon, clínico-geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "É certo que o organismo da maior parte dos adultos não está preparado para digerir o leite como na primeira infância, que vai até os 3 anos."

A lactose, presente no leite com cálcio, gordura e outros nutrientes, é formada por duas moléculas grandes de açúcar, que, para serem quebradas, necessitam de uma proteína fabricada pelo corpo, a lactase.

Nos bebês, a lactase é produzida em abundância, com exceção de uma minoria que nasce sem essa capacidade. Mas em alguma etapa da vida - em geral da adolescência aos 20 anos - o corpo diminui a produção, podendo até pará-la, caso que gera intolerância. Você estava acostumada com um copão branquinho toda manhã e, de repente, é como se tomasse uma dose de veneno.

Gases, dores no abdômen e diarreia são os principais sintomas de intolerância, que aparecem entre 10 minutos e uma hora após beber o leite. "A produção de gases é tamanha que chega a distender o abdômen. Parando de consumir leite e seus derivados, é possível perder alguns centímetros de circunferência abdominal em apenas sete dias", diz Vladimir Schraibman, do Departamento de Cirurgia da Unifesp.


Ligações perigosas
O leite está associado ainda a outros males, embora não se tenha descoberto qual a relação exata de causa e efeito. Há estudos indicando ligação entre seu consumo e o diabetes juvenil.

Um dos açúcares que compõem a lactose também demonstra alguma relação com o câncer de ovário e até a infertilidade. Muitas crianças constantemente afetadas por infecções auditivas, asma e eczema melhoram quando o leite é retirado de sua dieta. O mesmo acontece com adultos que têm psoríase ou artrite.

Onde a lactose mora
A lactose é um açúcar exclusivo do leite, assim como a frutose é das frutas. Mas faz parte também de alimentos que usam o leite em sua composição, como bolos, pães, margarina, biscoitos e sorvetes. "É importante ler o rótulo, no caso dos produtos industrializados, para saber se leite, soro ou coalho entram na composição", alerta Bárbara Rescali, nutricionista de São Paulo.

Os derivados do leite também apresentam lactose, algumas vezes em uma concentração menor. "Por isso, no geral, provocam menos sintomas", diz a gastroenterologista Débora Dourado Poli, do Hospital São Luiz, em São Paulo.


Os dublês do leite
Nem só de lactose vive o leite. Muitos dos seus componentes são fundamentais para o organismo. Por isso, se a bebida for excluída do cardápio, é preciso substituí-la à altura, principalmente no que diz respeito ao cálcio.

"O cálcio está envolvido na manutenção da massa óssea, além de ser fundamental em várias funções do organismo, como contração muscular e coagulação", lembra a nutricionista Patrícia Modesto, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

"Por isso, quem evita os leites e seus derivados deve consumir grande quantidade de vegetais de cor verde-escura, como brócolis, couve, agrião, mostarda, além de repolho, nabo e peixes de ossos moles, como o salmão e a sardinha", completa a nutricionista Priscila Barsanti, também do Einstein.

O problema é que o cálcio do leite é praticamente todo absorvido pelo organismo - cerca de 97% dele -, enquanto no caso dos vegetais essa proporção cai para 30%. Por isso, não basta apenas desconfiar que é intolerante ao leite e suspender seu consumo. O melhor é que o diagnóstico seja confirmado por um médico, principalmente no caso de crianças e jovens.